25.11.05

ÉTICA A PALOCCI


Essa é parte da fala de Pedro Simon, senador da República pelo Rio Grande do Sul (PMDB), por ocasião do depoimento do ministro da economia, o médico Antônio Palocci (PT-SP), durante convocação deste à Comissão de Assuntos Econômicos daquela casa, que trata de questões éticas, no que o senador é dos raros personagens da política brasileira que têm moral para argüir. Ainda que o presidente da república, Luis Inácio Lula da Silva (PT-SP) tenha dito que ninguém é mais ético do que ele próprio, eu pelo menos devo dar uma chance ao Senador, pois que ouvui sua fala na sessão e, mediante pedido, seu gabinete gentilmente ma enviou, com a de todos os demais naquela seção. Caso alguém queira toda a fala dele, ou a fala de todos, é só me pedir que eu as tenho. No mais, é um exercício de cidadania, lê-lo. Peço então que o façam.


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Ministro, pretendo abordar uma matéria que parece que V. Exª gostaria de ter abordado, mas as oposições não quiseram debater.
(...)

[...]vou ser muito sincero a V. Exª. Fui daqueles que olhei o Governo Lula na certeza de que haveria de ser um grande Governo. O Governo Lula, a vitória espetacular que ele teve, a campanha que ele se envolveu, houve um momento até em que se falava em meu nome em participação, qualquer coisa. Tive oportunidade de jantar com ele na minha casa e me lembro que dizia para ele com a preocupação que ele tinha da maioria parlamentar. Eu dizia: Presidente, não se preocupe com a maioria. Não se preocupe com a maioria, se preocupe em fazer um grande governo. Lula, o Brasil hoje está contigo.

É uma coisa interessante porque vi quando o Dr. Getúlio ganhou, ele ganhou, foi uma vitória fantástica mas no dia seguinte a UDN queria derrubá-lo, iniciou um processo para derrubar o Getúlio. Quer dizer, o João Goulart, quando assumiu, no dia seguinte, havia uma oposição radical ao Governo. O Lula não, o Lula parece que até nessas 4 eleições, nas derrotas que ele teve, quando ele assumiu havia uma torcida no sentido de que desse certo. A igreja estava toda com ele, os jovens eram fantásticos.

Eu ia convidado nas universidades, os jovens falavam: “Olha, Senador, nós gostamos muito do senhor, mas cuidado como V. Exª fala aqui porque aqui todo mundo é Lula.” Então, havia uma expectativa muito grande. O que aconteceu, Ministro? O que aconteceu? Uma que a gente imaginava, o medo que a gente tinha. O PT vai assumir, tem até aquele Presidente da Fiesp que dizia anos atrás, na outra eleição do Lula que ia se jogar no mar, todos os capitalistas iam viajar porque não sobraria nada! Foi o contrário porque o PT é o Governo na história do Brasil que teve mais aplauso do Banco Mundial, mais aplauso do Fundo Monetário, mais respeito, os elogios mais extraordinários.

Lembro-me que o seu antecessor, quando veio aqui, disse para ele: “Olha, gosto muito do senhor mas o senhor, quando sair do Ministério, vão fazer uma foto sua do tamanho de uma parede lá no Banco Mundial porque o senhor é o cidadão que deu mais lucro na história do Banco Mundial como Ministro da Fazenda do Brasil.” Acho que V. Exª está ganhando dele. Pelo menos, pelas informações que se tem, o seu Governo está ganhando e está tendo os maiores elogios exatamente nesse sentido.

Essa política com relação à radicalização não aconteceu. A política com relação à reforma agrária, que era outra expectativa, em que se previa uma violência no campo, um debate entre os sem-terra e os produtores, também não aconteceu. Estão levando numa boa, o Ministro da Reforma Agrária é um homem muito competente nesse sentido, e nada aconteceu!

Vendo V. Exª, vendo o Ministro Patrus Ananias, vendo o Ministro Tasso Genro, vendo alguns Ministros que conheço, não consigo entender como essas coisas aconteceram. Quando o Waldomiro falou e apareceu na televisão, nós entramos com pedido de CPI na mesma hora. Fui à tribuna para dizer: “Presidente, tem que ser, o primeiro caso apareceu; tem que fazer, porque se não fizer, a gente vai se arrepender.” E o Governo não deixou criar, o Governo e as lideranças na Câmara e no Senado. Na verdade, o Governo pressionou para não sair, mas a verdade é que conseguimos assinaturas. Na hora de conseguirmos as assinaturas os líderes da maioria fizeram uma nota, a nota mais cruel que vi na minha vida, nem no tempo da ditadura militar aconteceu isso: “Nós, os líderes da minoria, declaramos que só sai Comissão Parlamentar de Inquérito quando quisermos”. Quer dizer, o artigo da Constituição que diz que um terço de parlamentares constitui uma CPI, a CPI é um direito da minoria, é letra morta.

Tivemos que entrar no Supremo. Ganhamos por 9 a 1, mas levamos um ano e nove meses. Quando levamos um ano e nove meses, já havia mais 4 CPIs, a Casa já estava arrombada, já tinha acontecido essa série de fatos que não consigo entender. Não consigo entender como o Presidente Lula não deixa criar uma CPI, não consigo entender como ele não demitiu, na mesma hora, aquelas pessoas que estavam fazendo aqueles fatos, não consigo entender como o Presidente Lula não aceitou a tese do Tasso Genro quando ele quis ser Presidente do partido, em que ele disse: “Nós vamos refundar o PT, não interessa nem a CPI, nem Assembléia, nem o Congresso Nacional, nem a justiça que sabemos que é tardia e não vem. Nós, internamente, vamos nos recompor, ver o que existe para reapresentar o nosso partido.” Ficou falando sozinho, ficou falando sozinho.

E o que aconteceu, Ministro? Se a gente dizia: “O Lula não sabia, o Lula não sabia.” Mas das coisas o Lula não sabe? A eleição do Presidente da Câmara dos Deputados foi mais feia do que a anterior. Ele chamou o Fleury, para ele, Presidente da República, para dizer para o Fleury: “Olha, vamos compor no segundo turno.” Ele chamou o PP para dizer “Vamos compor no segundo turno”, e prometeu um Ministério para o PP. Essas coisas aconteceram. A liberação de verbas para a eleição do Presidente da Câmara também aconteceu.

Quando a gente imaginava um novo PT, depois de passar por tudo o que aconteceu, agora vai mudar, agora o Lula sabe, agora vai ser reformulado - aconteceu a mesma coisa. Aconteceu a mesma coisa! Há 3 dias, o Governo não queria que houvesse quorum para a prorrogação dos trabalhos da CPI dos Correios; queria matar a CPI. Lutou para não deixar criar e, agora, retirou 50 assinaturas - 30 do PMDB e mais não sei quantas. Por uma assinatura, não morreu a CPI dos Correios.

Então, essa tese de que há uma coisa completamente fora da ética, da seriedade, da respeitabilidade, da biografia do PT. Este Partido tem uma história. Tenho dito isso, Sr. Ministro. Sou do MDB e deveria ter tido uma história fantástica, pois a nossa luta contra a ditadura, pela legalidade, pelas Diretas-já é uma das páginas mais bonitas da nossa história, que nós botamos fora. Todo aquele patrimônio, que parece nunca acabar, com as disputas entre Sarney, Ulysses e companhia, com aquela nossa confusão interna, acabou sendo colocado fora, tanto que Ulysses conseguiu 3% dos votos como candidato a Presidente da República.

Vocês fizeram esse patrimônio, que é a coisa mais importante dos 55 milhões de votos do Lula, que, se ele ganhou as eleições amanhã, ele pode perder depois, da história, da sua biografia, que não pode ser jogado fora. No entanto, de repente, está acontecendo isso. Sem mais, nem menos, querem queimar, retirar a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios, não dar prazo para prorrogá-la (Inaudível.) ontem.

Volto a repetir que, apesar dos debates - e não gosto muito destes, quando são feitos lá na área do município. Nunca trouxe para Brasília nenhuma briga, nem de Porto Alegre, nem do Rio Grande do Sul, muito menos do meu município [O senador é de Caxias do Sul] -, vejo V. Exª, a nível nacional, com essa (Inaudível.) de seriedade e de respeitabilidade. Porém, não podemos deixar de reconhecer que V. Exª é o grande conselheiro do Lula, embora ele pareça não ter tantos conselheiros e não ouvi-los.

Mas pergunto-me como V. Exª, na sua história, na sua biografia, no seu trabalho, na sua equipe, na sua dedicação para mudar o Brasil, o seu trabalho e a disparidade de um Partido, que faz absurdos inimagináveis e incompreensíveis. Não se pode entender isso, porque nunca se viu nada igual.

No caso do Collor, foi o PC Farias que pegou dinheiro de empresários. Pegamos o Collor no impeachment, porque pegamos um cheque fantasma do Collor, que um motorista nos trouxe, comprando um carro, em Goiânia, em nome do Presidente da República.

No caso do Jango e do Getúlio Vargas, foram brigas políticas. Os militares queriam derrubá-los; a UDN queria derrubá-los; o Lacerda queria derrubá-los. Mas, internamente, o Governo, o Partido do Governo, o Presidente do Partido do Governo, o tesoureiro do Partido do Governo?

Penso ser de grande importância uma reunião, em um ambiente de tranqüilidade, diferentemente daquele de uma CPI, cuja radicalização e raiva é total. Penso que V. Exª poderia antecipar o seu pensamento sobre essa matéria.

Muito obrigado.

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