25.11.05

ALGUMA SERENIDADE...


Em poucas vezes, o Cony, a quem dedico desde sempre uma série de críticas, mereceu tanto meu elogio como na reportagem que linkei com o título. Vale a pena lê-la, pos se aproxima bastante do meu ponto de vista, com uma diferença: eu VOTEI no homem e é quase ceto que no segundo turno, eu vote novamente. Apenas esperneio, e brigo, e choro, e vocifero. Como qualquer um que se saiba decepcionado.

O Lula, tem problemas. Graves. Minha esperança é que, reeleito, ele chute o pé na bunda do Palocci, daquele meu conterrâneo miserável do Banco Central e governe para quem o elegeu. Sobretude, que ele, como se diz em Goiás, "acorde para a vida". E saiba mais, seja mais responsável...

SOBRE PAPANDUVA


Um pequeno dicionário de Tupi dá "Papanduva" como significando "de casca rugosa saltada". É pois, uma planta. De casca rugosa. Moro nos Cerrados, onde muitas plantas há com este tipo de casca, embora nenhuma com este nome. Então Panduva, nunca me significara nada.

Todavia, a palavra faz agora, muito sentido. E não pela planta, mas pelo município ao qual ela empresta o nome. E mais que por suas belas cachoeiras, pois que de onde vim também as há, e muitas. Tampouco me interessam as competições de motocross, já que nem sou fã do esporte. Foi particularmente uma outra espécie de encanto, que só a mim comoveu, como aquela chuva que talvez apenas a você tenha chamado a atenção, por uma melancolia qualquer.
A papanduvense que eu conheço é um mimo! Eu queria colocar a foto dela, mas não me foi permitido, como se vê, são bonitas, mas más. Felizmente, boas amigas...

EM DEFESA DA OPINIÃO


Estão querendo cercear nosso direto à informação, a começar pelos Estados Unidos da América, defensores da liberdade de expressão desde qe, obviamente, esta não vá contra seus próprios interesses, o que Alberto Granado descubriu ao cometer o terrível crime de assinar um manifesto contra a bomba atômica.

A ironia é que foi justamente um estado-unidense quem afirmou que "o preço da liberdade era a eterna vigilância". Não se sabe se por uma onda de medo e preconceito cuidadosamente arquitetada, ou se pelo quê, o fato é que tenho a nítida sensação de que se está cochilando.

Que o Bush é um sujeito de digamos, inteligência não muito brilhante, é coisa que se sabe já há muito. Todavia, daí a bombardear a Al Jazeera, há uma distância grande, o que o coloca no claro rol dos homens perigosos. Mais; ainda que elese seja obtuso, seus acessores não o são e dado a conveniência de uma mídia amansada, pronta para repetir os refrões Império, têm se uma situação que nos exige atenção.

Mais: é um erro acahar que esse seja um caso típico provocados pelo conservadorismo estado-unidense; é tembém deplorável a ação de outros governos, como o britânico; parece que onde se ameaça de terrorismo, ponderar se torna crime, colocando nações primitivmente democráticas em situação que difere só em grau à das nações menos tolerantes.

Acrescente-se isso ao já pouco exemplar comportamento habitual da mídia, e mesmo das autoridades e do sistema legal brasileiro e vê-se que é possível devotar pouca confiança à mídia brasileira. É óbvio que devem haver limites, todavia é necessário estar sempre atento às vejas, jornais nacionais, foxes e agências estado-unidenses da vida. Menos mal, é que outros povos, alguns inclusive nossos vizinhos estão aprendendo isso. Nós também deveríamos.


ÉTICA A PALOCCI


Essa é parte da fala de Pedro Simon, senador da República pelo Rio Grande do Sul (PMDB), por ocasião do depoimento do ministro da economia, o médico Antônio Palocci (PT-SP), durante convocação deste à Comissão de Assuntos Econômicos daquela casa, que trata de questões éticas, no que o senador é dos raros personagens da política brasileira que têm moral para argüir. Ainda que o presidente da república, Luis Inácio Lula da Silva (PT-SP) tenha dito que ninguém é mais ético do que ele próprio, eu pelo menos devo dar uma chance ao Senador, pois que ouvui sua fala na sessão e, mediante pedido, seu gabinete gentilmente ma enviou, com a de todos os demais naquela seção. Caso alguém queira toda a fala dele, ou a fala de todos, é só me pedir que eu as tenho. No mais, é um exercício de cidadania, lê-lo. Peço então que o façam.


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Ministro, pretendo abordar uma matéria que parece que V. Exª gostaria de ter abordado, mas as oposições não quiseram debater.
(...)

[...]vou ser muito sincero a V. Exª. Fui daqueles que olhei o Governo Lula na certeza de que haveria de ser um grande Governo. O Governo Lula, a vitória espetacular que ele teve, a campanha que ele se envolveu, houve um momento até em que se falava em meu nome em participação, qualquer coisa. Tive oportunidade de jantar com ele na minha casa e me lembro que dizia para ele com a preocupação que ele tinha da maioria parlamentar. Eu dizia: Presidente, não se preocupe com a maioria. Não se preocupe com a maioria, se preocupe em fazer um grande governo. Lula, o Brasil hoje está contigo.

É uma coisa interessante porque vi quando o Dr. Getúlio ganhou, ele ganhou, foi uma vitória fantástica mas no dia seguinte a UDN queria derrubá-lo, iniciou um processo para derrubar o Getúlio. Quer dizer, o João Goulart, quando assumiu, no dia seguinte, havia uma oposição radical ao Governo. O Lula não, o Lula parece que até nessas 4 eleições, nas derrotas que ele teve, quando ele assumiu havia uma torcida no sentido de que desse certo. A igreja estava toda com ele, os jovens eram fantásticos.

Eu ia convidado nas universidades, os jovens falavam: “Olha, Senador, nós gostamos muito do senhor, mas cuidado como V. Exª fala aqui porque aqui todo mundo é Lula.” Então, havia uma expectativa muito grande. O que aconteceu, Ministro? O que aconteceu? Uma que a gente imaginava, o medo que a gente tinha. O PT vai assumir, tem até aquele Presidente da Fiesp que dizia anos atrás, na outra eleição do Lula que ia se jogar no mar, todos os capitalistas iam viajar porque não sobraria nada! Foi o contrário porque o PT é o Governo na história do Brasil que teve mais aplauso do Banco Mundial, mais aplauso do Fundo Monetário, mais respeito, os elogios mais extraordinários.

Lembro-me que o seu antecessor, quando veio aqui, disse para ele: “Olha, gosto muito do senhor mas o senhor, quando sair do Ministério, vão fazer uma foto sua do tamanho de uma parede lá no Banco Mundial porque o senhor é o cidadão que deu mais lucro na história do Banco Mundial como Ministro da Fazenda do Brasil.” Acho que V. Exª está ganhando dele. Pelo menos, pelas informações que se tem, o seu Governo está ganhando e está tendo os maiores elogios exatamente nesse sentido.

Essa política com relação à radicalização não aconteceu. A política com relação à reforma agrária, que era outra expectativa, em que se previa uma violência no campo, um debate entre os sem-terra e os produtores, também não aconteceu. Estão levando numa boa, o Ministro da Reforma Agrária é um homem muito competente nesse sentido, e nada aconteceu!

Vendo V. Exª, vendo o Ministro Patrus Ananias, vendo o Ministro Tasso Genro, vendo alguns Ministros que conheço, não consigo entender como essas coisas aconteceram. Quando o Waldomiro falou e apareceu na televisão, nós entramos com pedido de CPI na mesma hora. Fui à tribuna para dizer: “Presidente, tem que ser, o primeiro caso apareceu; tem que fazer, porque se não fizer, a gente vai se arrepender.” E o Governo não deixou criar, o Governo e as lideranças na Câmara e no Senado. Na verdade, o Governo pressionou para não sair, mas a verdade é que conseguimos assinaturas. Na hora de conseguirmos as assinaturas os líderes da maioria fizeram uma nota, a nota mais cruel que vi na minha vida, nem no tempo da ditadura militar aconteceu isso: “Nós, os líderes da minoria, declaramos que só sai Comissão Parlamentar de Inquérito quando quisermos”. Quer dizer, o artigo da Constituição que diz que um terço de parlamentares constitui uma CPI, a CPI é um direito da minoria, é letra morta.

Tivemos que entrar no Supremo. Ganhamos por 9 a 1, mas levamos um ano e nove meses. Quando levamos um ano e nove meses, já havia mais 4 CPIs, a Casa já estava arrombada, já tinha acontecido essa série de fatos que não consigo entender. Não consigo entender como o Presidente Lula não deixa criar uma CPI, não consigo entender como ele não demitiu, na mesma hora, aquelas pessoas que estavam fazendo aqueles fatos, não consigo entender como o Presidente Lula não aceitou a tese do Tasso Genro quando ele quis ser Presidente do partido, em que ele disse: “Nós vamos refundar o PT, não interessa nem a CPI, nem Assembléia, nem o Congresso Nacional, nem a justiça que sabemos que é tardia e não vem. Nós, internamente, vamos nos recompor, ver o que existe para reapresentar o nosso partido.” Ficou falando sozinho, ficou falando sozinho.

E o que aconteceu, Ministro? Se a gente dizia: “O Lula não sabia, o Lula não sabia.” Mas das coisas o Lula não sabe? A eleição do Presidente da Câmara dos Deputados foi mais feia do que a anterior. Ele chamou o Fleury, para ele, Presidente da República, para dizer para o Fleury: “Olha, vamos compor no segundo turno.” Ele chamou o PP para dizer “Vamos compor no segundo turno”, e prometeu um Ministério para o PP. Essas coisas aconteceram. A liberação de verbas para a eleição do Presidente da Câmara também aconteceu.

Quando a gente imaginava um novo PT, depois de passar por tudo o que aconteceu, agora vai mudar, agora o Lula sabe, agora vai ser reformulado - aconteceu a mesma coisa. Aconteceu a mesma coisa! Há 3 dias, o Governo não queria que houvesse quorum para a prorrogação dos trabalhos da CPI dos Correios; queria matar a CPI. Lutou para não deixar criar e, agora, retirou 50 assinaturas - 30 do PMDB e mais não sei quantas. Por uma assinatura, não morreu a CPI dos Correios.

Então, essa tese de que há uma coisa completamente fora da ética, da seriedade, da respeitabilidade, da biografia do PT. Este Partido tem uma história. Tenho dito isso, Sr. Ministro. Sou do MDB e deveria ter tido uma história fantástica, pois a nossa luta contra a ditadura, pela legalidade, pelas Diretas-já é uma das páginas mais bonitas da nossa história, que nós botamos fora. Todo aquele patrimônio, que parece nunca acabar, com as disputas entre Sarney, Ulysses e companhia, com aquela nossa confusão interna, acabou sendo colocado fora, tanto que Ulysses conseguiu 3% dos votos como candidato a Presidente da República.

Vocês fizeram esse patrimônio, que é a coisa mais importante dos 55 milhões de votos do Lula, que, se ele ganhou as eleições amanhã, ele pode perder depois, da história, da sua biografia, que não pode ser jogado fora. No entanto, de repente, está acontecendo isso. Sem mais, nem menos, querem queimar, retirar a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios, não dar prazo para prorrogá-la (Inaudível.) ontem.

Volto a repetir que, apesar dos debates - e não gosto muito destes, quando são feitos lá na área do município. Nunca trouxe para Brasília nenhuma briga, nem de Porto Alegre, nem do Rio Grande do Sul, muito menos do meu município [O senador é de Caxias do Sul] -, vejo V. Exª, a nível nacional, com essa (Inaudível.) de seriedade e de respeitabilidade. Porém, não podemos deixar de reconhecer que V. Exª é o grande conselheiro do Lula, embora ele pareça não ter tantos conselheiros e não ouvi-los.

Mas pergunto-me como V. Exª, na sua história, na sua biografia, no seu trabalho, na sua equipe, na sua dedicação para mudar o Brasil, o seu trabalho e a disparidade de um Partido, que faz absurdos inimagináveis e incompreensíveis. Não se pode entender isso, porque nunca se viu nada igual.

No caso do Collor, foi o PC Farias que pegou dinheiro de empresários. Pegamos o Collor no impeachment, porque pegamos um cheque fantasma do Collor, que um motorista nos trouxe, comprando um carro, em Goiânia, em nome do Presidente da República.

No caso do Jango e do Getúlio Vargas, foram brigas políticas. Os militares queriam derrubá-los; a UDN queria derrubá-los; o Lacerda queria derrubá-los. Mas, internamente, o Governo, o Partido do Governo, o Presidente do Partido do Governo, o tesoureiro do Partido do Governo?

Penso ser de grande importância uma reunião, em um ambiente de tranqüilidade, diferentemente daquele de uma CPI, cuja radicalização e raiva é total. Penso que V. Exª poderia antecipar o seu pensamento sobre essa matéria.

Muito obrigado.

AS RESPOSTAS DO MINISTRO

As respostas do ministro da Economia também não são integrais, pois que parte trata de questionamentos do senador Pedro Simon sobre assuntos regionais. Todavia, quem as queira, lhas enviarei com prazer. Eu linkei somente os dois primeiros parágrafos, com fins meramente didáticos.

Senador Pedro Simon, V. Exª disse que naquela época a CPI tinha assinaturas suficientes e a Maioria não a instalou. A instalação dela dependeu de decisão do Supremo Tribunal Federal, dada depois de um ano e meio. Depois de todo esse tempo em que eu estive apanhando exatamente por falta de mais provas e mais evidências, além daquelas que apresentei naquela oportunidade, tenho a alma no seu devido lugar. Nunca vi um Senador, um político, sofrer o que eu sofri sem ter cometido nenhum ato de corrupção. Na vida pública brasileira nunca vi isso.

Devo dizer que é uma discordância que tem sua matriz numa concepção político-sociológica bem diversa da concepção do atual governo. Ao contrário do que aqui foi afirmado - companheiros, Senadores da Oposição afirmaram que só se fosse com demagogia, mas não -, o Brasil tem condições, sim, e deveria, sim, sem cometer qualquer demagogia estabelecer uma política econômica que atendesse aos interesses dos brasileiros.

Segundo ponto. Digo isso por uma questão simples: política econômica é instrumento de Governo, utilizado para, coadjuvado com outros instrumentos e com outras políticas, estabelecer a consecução dos objetivos do Estado, que é propiciar a felicidade do povo, e essa política econômica tem levado nosso povo ao sofrimento. É exatamente o contrário. Disseram aqui que governos anteriores venderam o patrimônio do povo brasileiro. É verdade, venderam o patrimônio do povo brasileiro e não resolveram o problema.
Agora, na verdade, vendem ao exterior a resultante da força de trabalho, que é o PIB, que está sendo exportado, e - o que é pior - sem que o povo venha a receber o dinheiro pela venda da sua força de trabalho, pois aquilo que o país recebe é devolvido aos compradores dessa mesma força de trabalho em forma de pagamento de juros dos juros, o que é triste.

[...]

Em segundo lugar, Senador, eu queria fazer um breve comentário sobre as suas colocações que eu ouvi com muita atenção e vou transmiti-las ao Presidente Lula, se V. Exª me permitir. Eu, desde muito jovem, acompanho a sua vida política. Tenho o mais alto respeito pela sua pessoa e pelas suas convicções democráticas. Sei dos seus compromissos com a sociedade brasileira e com a democracia. Acompanhei sua vida política, admirando-a, quando eu estava começando a participar das atividades partidárias. Então, eu quero reafirmar que as suas colocações aqui somente aumentam a minha admiração, porque são de um democrata, de um brasileiro que luta pelas suas idéias e tem convicções muito claras.

Eu somente não sou pessimista, talvez como V. Exª, em relação ao Governo, ao que ocorreu e ao resultado dessas questões. Eu quero ser mais otimista. Eu também estou triste com o que ocorreu. Questões que envolveram nosso Partido e pessoas nos entristecem, mas não me desanimam. Eu acho que nós precisamos fazer com que as questões sejam olhadas de maneira objetiva e sejam apuradas de forma séria. Devemos ter a certeza de que se isso for feito correta e adequadamente, o Brasil vai estar melhor depois disso.

Se erros foram cometidos, eu estou aqui para assumir a minha parte neles. Se nós não lidamos adequadamente com todas as questões colocadas, estou aqui para assumir minha parte nesses erros. Vou transmitir ao Presidente Lula a sua fala e preocupações porque tenho certeza de que o Presidente tem admiração por V. Exª e tenho certeza de que todos nós do Partido dos Trabalhadores temos uma admiração muito grande pela sua pessoa e levamos com a mais alta seriedade as suas observações.

Eu quero apenas crer que o Brasil vai ganhar se nós fizermos o esforço de superar essas dificuldades. No dia de amanhã, as instituições vão ser mais sólidas, a democracia vai ser mais forte, nós todos seremos mais fortes para construir instituições definitivamente equilibradas para o futuro do nosso Brasil. Então, queria apenas dizer que ouvi, com muita atenção, as suas colocações e as registro como muito importantes para minha visita aqui hoje. Saio daqui, carregando-as com muita humildade, até porque nessa luta muitas pessoas reclamam, eu mesmo reclamei aqui, talvez mais do que devia, sobre acusações desses momentos, sobre troca de insultos, sobre brigas. E eu, como membro de um Partido que foi extremamente aguerrido na oposição, só posso, nesses momentos, fazer também um mea culpa, porque nós também brigamos, nós também fomos aguerridos.

Alguns de vocês talvez tenham sofrido o estilo briguento do PT em relação a apurar as coisas, a denunciar tudo. Isso faz parte de uma construção democrática, mas nós temos, também, que saber respeitar os processos. Então, apenas queria registrar aqui que sua fala foi muito importante para mim, que durante minha vida aprendi muito com o senhor e penso que aprendi muito mais hoje aqui com as suas colocações.

O SR. EDUARDO SUPLICY (PT - SP) - Se me permite, as palavras do Senador Pedro Simon são de um amigo do PT, do Presidente Lula e de V. Exª.


24.11.05

A Vida, por Cora Coralina

Duas glórias apenas, têm a poesia centro-oestina; uma viva. Manoel de Barro, do graNde Estado do Mato Grosso, sempre ao largo do Paraguai no que tem de genuíno. Aa outra, não mais entre nós, de Goiás sempre oscilante entre o Araguaia e o Paranaíba. Terras sem mar.
Por isso os rios, e por isso neles, até as almas são terra e tudo se esvai, como as águas que vão para mares que a maioria de nós morre, como meus avós, sem tê-los visto. Os rios são de nós e nossa alma, a única coisa que, verdadeiramente, flui.
Mas deixa, que Cora Coralina, orgulho da minha terra, disse melhor que eu.
Ah, e para quem não sabe, aquele famoso dístico "Na prática, a teoria é outra", é dela.

A VIDA

Há tantas definições na vida
Bonitas, tristes, expressivas, inexpressivas
A vida.
Alguns já definiram a vida como um mar
Um mar revolto, encapelado
De ondas violentas
De naufrágios e tempestades
Um mar tempestuoso.
Outros definiram a vida como rio
Orio é a minha definição da vida
O rio imenso, farto,
Com as suas corredeiras e as suas margens.
A sua corredeira, sobretudo
E sobretudo os seus remansos.
Porque todo rio tem a sua veia corrente
O seu veio de corredeiras e tem seus remansos
E toda corredeira lança tudo para o remanso
O remanso aproxima-se da margem.
Da correnteza ao remanso, uma eternidade
Do remanso à margem, um pulo.
A ânsia dos moços que vão pela correnteza
A compreensão, a filosofia dos velhos lançados no remanso
E passados para as margens.
Eu fiz a travessia da minha vida
Do rio da minha vida
Na correnteza, como todos fazem
Passam os barcos, os grandes transatlânticos
Cantando, dançando
Mesa farta, música
Gente moça, gente despreocupada
Gente que acha o prato feito
E que tem apenas o trabalho de levar à boca aquilo que os outros fizeram
Que os outros acumularam
Que os outros prepararam.
São aqueles que recebem,
Por mercê de nascimento,
Todos os dons da vida.
Vão nos transatlânticos, despreocupados.
Depois seguem os barcos motorizados
Com um bom motorneiro na direção
A família amparada,
A família alegre, festiva
Mulher, crianças, noivos, sonhadores.
Sem pensar bem, vão acompanhando as classes
Um homem bem colocado na vida e que leva seu barco com segurança
Mulher, filhos à sua dependência
Vai guiando pelo espelho d'água pelo veio da correnteza
Com sua máquina, seu mundoA
quelas paisagens todas, encantado com o panorama
Todos felizes, alegres, a família bem constituída
A família alheia às dificuldades do cotidiano
Vai esse barquinho.
Depois vem um barco menor,
Um barcozinho menor,
Com um motor de popa que já pertenceu a outros barcos que já foram desmontados
Vai fazendo a sua forcinha,
Vai fazendo a sua diligência
Passa também com seu esforço o grande rio da vida.
Depois um barco a remo, o remador.
Mulher, mãe pobre, pai, filhos, ilhos, ilhos.
Lá vai ele remando.
É um trabalhador, pai de família
Vai levando.
Depois descem os barquinhos fazendo água.
O homem no remo, a mulher com uma latinha para tirar a água.
Joga a água.
Vai fazendo água a ponto de afundar
Quem é o dono do barquinho?
É aquele pobrezinho
Mas ainda não é o último.
E ele vai levando o seu barquinho
Vai fazendo água, mas ele vai levando.
Aí passa eu, bracejando
Água pelo queixo, e eu bracejava, bracejava
Quatro crianças no meu dorso,
Agarradas nos meus cabelos, nas minhas orelhas
Nos meus ombros, nas minhas carnes
Quatro crianças que eu levava comigo e que devia levar até o porto
E eu bracejava, bracejava
Fui a última?
Não
Não fui a última
Porque bracejando,
Com aquelas crianças no meu dorso
Eu vi passar náufragos, pedaços de barcos destroçados
Náufragos agarrados numa tábua
Corpos mortos de famílias desajustadas, destroçadas
E um dia,
Um dia a correnteza
Depois de muita luta, muito esforço
A correnteza me jogou no remanso
E o remanso me jogou para a margem
Senti uma solidez para os meus pés.
Levantei
Saí da água escorrendo com a dor
Corridos, molhados, ainda sentindo no dorso aquelas quatro crianças
Depois pisei a terra firme da margem
As crianças saltaram do meu dorso
E o que eu vi nesta hora...
Esta hora foi a hora do deslumbramento
Eu havia carregado quatro crianças?
Não
Quatro gigantes haviam me carregado.
Eu não carreguei meus filhos
Quatro gigantes me carregaram
Saltaram de meus ombros quatro gigantes
Eu vi
E compreendi que aquelas crianças que eu pensava que estava carregando
Agarradas aos meus cabelos, às minhas orelhas
Eram quatro gigantes que me carregavam.
Daí saiu de um canto um jovem e disse a uma das filhas:
Vamos fazer o nosso barco?"

Cora Coralina

Agora é lei: no Reino Unido, c* de bêbado não tem dono!

Estava tentando preparar uma matéria mais séria, sobre as novas opções de mídia no mundo. Mas eis que vi essa pérola na Folha Online e não pude perder a chance de compartilhar esse importante avanço jurídico britânico.
Não demoro, então fique à vontade, a casa é sua...

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