25.2.08

A ARTE DO NÃO PILOTO

Walter Falceta

Universalizada, a imprensa dos jornalões pilota a nave que conduz a multidão a todo lugar; portanto, a lugar algum. Diz tudo para não dizer nada. "A arte de fazer revista consiste em não compreender nada, escrever muito sobre o assunto e fazer com que o leitor tenha a ilusão de que aprendeu alguma coisa", conforme ensinava um cacique vejal.

Cabe dizer que parte da imprensa é orgulhosa do que não sabe ou do que inventa. Bate no peito e arrota estultices, doida para escalar o mais empinado arranha-céu e evacuar sobre a urbe. Assim, parece implausível que se converta por meio de qualquer esforço educativo.

Seria injustiça incluir todos os profissionais na chusma. Posto que tem gente boa no meio, ainda que cada vez menos. Mas quem tem mais chances de graduação nas casas-grandes da comunicação? Pode-se dizer que é o tarado pela servidão voluntária. Certa libido barbárica, seduzida pela chance de violação, energiza esse vampiro da pena alugada. Seis preceitos definem o pensamento desse seguidor de Sacripante:

· Ser "bom", seja lá o que isso signifique, é coisa de otários ou de bravateiros. Julga-se, portanto, por si próprio.

· Justiça social equivale (e sempre equivalerá) a esmola, valor subtraído aos que divinos merecedores da máxima abundância.

· A idéia de "oportunidades iguais" não pode, jamais, migrar do papel liberal para a realidade.

· A discordância não é motivo para instituição de debate, mas para engendramento de uma ação de vingança.

· A verdade é apenas o resultado de uma construção retórica, muitas vezes travestida de humor irônico, na qual têm validade somente os argumentos consagrados na doutrina dos financiadores.

· Se falta disposição para o esclarecimento proporcionado pelo abandono no outro, isto é, no exercício dialético, sobra energia para a cruzada de desqualificação dos oponentes.

Engana-se, entretanto, quem imagina que esse tipo de conduta doentia permeie apenas o noticiário e o colunismo de Política e de Economia. Está presente em todos os setores da mídia e em todas as redações. Há sacripantas inchados de egocentrismo nos aquários das editorias de Ciência, Artes e Espetáculos, Esportes, Cidades e até nas baias dos pândegos.

Erra quem imagina que os receptores estejam alheios a essa deterioração acelerada dos conteúdos oferecidos pelos grandes veículos de comunicação. Um tour pelas comunidades de relacionamento da Internet será suficiente para mostrar o descontentamento do público consumidor. Há quem reclame dos "marrons" da imprensa esportiva, quem não suporte mais a empáfia dos críticos musicais e também quem tenha simplesmente desistido de assistir à bufonaria de William Homer e Fátima Bernardes.

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